Neste domingo, 30 de outubro, cerca de 156 milhões de brasileiros retornam às urnas para decidir quem governará o Brasil nos próximos quatro anos / Divulgação
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Neste domingo, 30 de outubro, cerca de 156 milhões de brasileiros retornam às urnas para decidir quem governará o Brasil nos próximos quatro anos. Jair Messias Bolsonaro (PL) concorre à reeleição contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Economistas, administradores e sociólogos dizem o que esperar do Brasil na eventual vitória de um candidato ou de outro.
Inflação de alimentos e combustível mais caro
Para o economista Josilmar Cordenonssi Cia, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, independentemente de quem vença, os brasileiros podem esperar inflação de alimentos e combustível mais caro.
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“Praticamente em todo início de governo, o foco é conter os gastos, diminuir os déficits para poder gastar mais nos anos eleitorais. O ciclo eleitoral é um importante fator nas decisões dos políticos que sempre buscam a reeleição ou ajudar na eleição de seus sucessores para manter, pelo menos parcialmente, a sua influência nas decisões futuras. Desta forma, independentemente de quem seja eleito, 2023 tende a ser um ano sem os gastos extravagantes que vemos agora.
O corte de ICMS deve ser revertido no início do próximo ano, pois muitos estados terão dificuldades para fechar as suas contas. Em um ano eleitoral, quase ninguém foi contra para não perder votos. Portanto, boa parte da deflação dos combustíveis neste ano será revertido no início de 2023. O impacto líquido na inflação ainda dependerá da cotação do dólar e do preço do petróleo e derivados no mercado internacional.
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A inflação de alimentos é algo muito difícil de administrar. Os alimentos que são exportados (como carne) ou importados (como o trigo) seguem os preços internacionais. E os alimentos que são produzidos e consumidos, como as verduras e os legumes, sofrem muita influência climática.”
Pelo mesmo caminho vai o economista Edison de Oliveira, docente do Grupo UniEduk. Também para ele, o Brasil deve continuar sofrendo com preços altos.
“Tanto a questão dos combustíveis, como a inflação de alimentos, é um processo no qual o país não tem controle. Isso porque elas refletem situações externas, que estão afetando todo o mundo, não apenas o Brasil. Assim, a pressão sobre os preços dos combustíveis e alimentos deve continuar, independentemente do candidato eleito. Além disso, ambos prometem manter as ações sociais, o que deve aumentar a desvalorização do real perante o dólar e, por conseguinte, pressionar os preços internamente”, diz Edison.
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Governos intervencionistas
A partir de 2023, os brasileiros devem se deparar com um governo mais intervencionista na economia, novamente, independente de quem ganhar a eleição. Ao menos, esta é a análise, baseada nas propostas dos dois candidatos, do economista Mauro Rochlin, professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“As propostas dos dois candidatos, elas sugerem que haverá uma forte intervenção do governo na economia, nos dois casos. Mesmo no governo Bolsonaro, que se diz mais liberal, o que vimos nos últimos anos foi uma forte intervenção na economia.
De fato, o governo Bolsonaro propôs uma reforma tributária, que foi apresentada como algo que mudaria em sua essência o regime tributário brasileiro e que teria um forte impacto no setor privado sobre a distribuição de lucros e dividendos, que seriam taxados, e sobre despesas da classe média, uma vez que deduções de saúde e educação não seriam mais consideradas. Essa reforma não foi adiante, mas entendo que em eventual novo governo do presidente Bolsonaro, ela estaria em pauta.
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Sobre um eventual governo Lula, acredito que não haveria nada muito diferente. Deve ser proposto também uma reforma tributária, que provavelmente avançará sobre a renda, visto que há a hipótese de tentar desonerar produção e avançaria sobre renda em consumo. Não creio que podemos falar de uma diferença muito grande entre os dois neste sentido, talvez o governo Lula fosse um pouco menos draconiano com relação às despesas da classe média.”
Sem conciliação
Quando o assunto é a sociedade brasileira, o sociólogo Rogério Baptistini Mendes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, prevê uma demora na conciliação dos diferentes grupos que atualmente dividem o País.
“A definição do resultado da eleição presidencial, infelizmente, não provocará a regeneração automática da vida social brasileira. O pacto que sustenta a sociedade está comprometido. A divisão entre nós e eles sobreviverá à eleição e já se tornou elemento definidor da identidade de grupos inteiros (...). Hoje, mais do que o resultado eleitoral, somente uma profunda reforma intelectual e moral recolocará a sociedade brasileira nos trilhos.”
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Pensamento parecido tem a professora Isabel Veloso, da FGV Direito Rio. Entretanto, pare ela, a falta de conciliação não é um fenômeno exclusivo do Brasil.
“Nesse cenário de elevada polarização, é natural que o resultado traga grande frustração a uma das partes. É natural ainda que a polarização perca um pouco de sua potência após o período eleitoral, sendo contudo mantida, como um “novo normal”. Isso porque não se trata de um fenômeno experimentado apenas no Brasil, as democracias contemporâneas estão vivendo mudanças de paradigma, uma vez que novas forças políticas estão surgindo e se difundindo com maior celeridade e, com isso, mobilizando “paixões”. Como um dos principais combustíveis dessa mudança de paradigma, a mídia tradicional passou a disputar espaço com outros veículos de informação e, em particular, de desinformação”, comenta Isabel.
Por fim, a socióloga Maria do Socorro Sousa Braga, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), analisa a questão da pauta de costumes, que, para ela, deve continuar, mas com maior ou menor foco, dependendo de quem for eleito.
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“O Brasil nesta eleição demonstrou um alto grau de divisão na sociedade. Na verdade, sempre fomos muito divididos, mas em relação à questão socioeconômica, por conta da nossa grande desigualdade social, e em questões raciais. Contudo, nesta eleição, também vimos uma grande divisão por conta dos valores.
Acredito que em um eventual governo Lula, a pauta de valores tende a ser reduzida, ainda que tenhamos um Congresso mais ligado à essas pautas. Isso porque os partidos denominados como “centrão” são mais adesistas, ou seja, tendem a aderir ao governo em curso. Por outro lado, no caso de uma eleição de Bolsonaro, teremos mais chances de vermos a chamada pauta de costumes com mais força no Congresso e na sociedade”, finaliza.
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