Praia ainda é pouco frequentada e maior movimento é registrado aos domingos; visitantes desfrutam de piscinas naturais e podem se banhar no rio ou no mar / Rodrigo Montaldi/DL
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A quilometragem do carro foi zerada na Praça dos Andradas, no Centro de Santos. Em aproximadamente uma hora a Reportagem chegaria ao seu destino final: Praia do Itaguaré, em Bertioga. Foram 77 quilômetros entre as rodovias Anchieta, Cônego Domênico Rangoni e Rio-Santos (BR-101) para acessar o local, que chama atenção pela beleza e preservação. Lá é possível aproveitar o frescor de piscinas naturais e ver o encontro do rio com o mar, além de espécies nativas da restinga e da costa brasileira.
“É a primeira vez que venho a Itaguaré. Chegamos ontem e fomos também a Guaratuba (praia que fica ao lado). Pesquisei pela internet e vi que essa praia era preservada, boa para crianças. Um clima tranquilo, gostoso, um bom lugar para vir com a família”, disse Thiago Osler. O administrador é de São Paulo e estava acompanhando da esposa e da filha. Apesar da calmaria descrita por ele, os salva-vidas do local recomendam atenção nas pedras e na subida da maré, que aumenta o volume do rio.
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A Reportagem esteve em Itaguaré em uma quarta-feira de forte calor. A praia é mais frequentada aos domingos e estava ‘cheia’ para um dia de semana, aproximadamente 50 pessoas. A entrada se dá por uma estradinha pouco antes da ponte sobre o rio que leva o mesmo local e se encontra com o mar e logo após a Riviera de São Lourenço. O caminho é estreito e os carros estacionam enfileirados. Há opção de pagar para guardar o veículo em um dos quintais dos poucos residentes do lugar. Um posto do Corpo de Bombeiros e a placa com informações do local dão às boas vindas aos frequentadores.
Assim que o visitante tem contato com a areia lhe salta aos olhos um cenário paradisíaco. De um lado a restinga, no meio o Rio Itaguaré, que forma uma piscina natural, logo atrás a imensidão do mar. Para o paulistano entrevistado pelo Diário do Litoral, o lugar remete às praias do Nordeste.
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“Fui para o Rio Grande do Norte e é muito parecido. Quando vi isso aqui pensei: nem parece São Paulo. Os atrativos são as piscinas naturais. Para ir para lá gastaria com a família cerca de R$ 11 mil. Aqui, dois dias, não gastei R$ 300,00 para desfrutar dos mesmos atrativos”, destacou Osler. A conta feita pelo administrador para passar o dia em Itaguaré contém lanche, água, sucos, refrigerante, pedágio e gasolina.
Em Itaguaré não é permitida a venda de alimentos. Os visitantes precisam levar comida e bebida, além de acondicionar os resíduos e descartá-los em locais apropriados. A área integra o Parque Estadual Restinga de Bertioga.
Clique na foto abaixo e confira uma galeria de imagens desta praia paradisíaca:
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Pesca
Uma família de Guarujá aproveita a tarde de sol na beira de uma das piscinas naturais formada pelo Rio Itaguaré. Enquanto a mãe se banha na água com o filho mais novo, o pai e outros dois filhos tentam fisgar artesanalmente algum peixe. Segundo eles, no local é possível encontrar carapebas, robalos, pernas-de-moça e corvinas.
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“Comíamos ostra em um restaurante que fica lá na frente e nos falaram da praia. Isso já faz uns 20 anos. Começamos a vir. É uma praia maravilhosa que proporciona lazer amplo com rio e mar. Dá para pegar uns peixinhos também”, disse Rubens da Silva Oliveira.
Voo
O casal de quero-quero cuida dos dois filhotes próximo ao rio. Mais à frente o solitário gavião observa o movimento. Um bando de gaivotas sobrevoa o encontro das águas doce e salgada. Assim como as aves descritas, espécies comuns no litoral brasileiro, uma dupla de pilotos de paramotor de Praia Grande aprecia do alto as belezas de Itaguaré. “Gostamos muito do que vimos. É uma praia lindíssima e com acesso difícil. Um lugar de fato exuberante”, destacou o piloto Amarildo Marcari.
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Toca do Mar e a vida alternativa
Uma pequena trilha na restinga leva até o restaurante de Marcos Aurelio Souza, o Marquinhos das Ostras. A Reportagem encontrou o filho do caiçara, que banhava-se com dois cachorros no rio. A cadela Princesa conduz a equipe do Diário do Litoral pela estradinha que termina na casa do comerciante. A placa indica: Toca do Mar. Macacos-prego pulam entre os galhos das árvores. A espécie é nativa da região.
“Essa é a rota deles. Já acostumaram com a gente. Só assoviar que eles vem. Explico para as pessoas que visitam a praia que os macacos não são meus, são da natureza, e que é preciso respeitá-los e que não podem capturar. É um bando de 30 mais ou menos. A gente conhece cada um deles”, disse Marquinhos, que cria três cães abandonados pelos antigos donos na Rodovia Rio-Santos.
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Ele apresenta a esposa, Marcia Valeria Longuinho, que deixou a vida de professora no Centro de Bertioga para viver em Itaguaré. “Não tem dinheiro que pague. Essa vida é privilégio para poucos”, afirmou a mulher. Há 30 anos, Marquinhos vende ostras, cultivadas em Itaguaré, na beira da estrada. O comércio cresceu e eles também oferecem peixes. O pescado é recolhido no mar.
“Começamos em uma barraca na beira da estrada e as ostras ficavam em uma mesa. O primeiro comerciante aqui foi o meu pai. O restaurante já foi de bambu. Quem vem aqui come o peixe fresco do dia. A comida é caseira e o restaurante é simples. Para mim isso não é restaurante é o Rancho do Pescador”, disse Marquinhos, que fez questão de ressaltar sua condição de caiçara vindo de Laguna, Santa Catarina.
A calmaria e as belezas do lugar tem atraído muitos turistas. Mesmo com o aumento no movimento no restaurante, a esposa de Marquinhos teme que a ‘descoberta’ acabe com o lugar. “O desenvolvimento é bom, mas acaba com tudo, infelizmente. As pessoas jogam lixo na praia e não recolhem. Se trouxe o lixo tem que levar embora”, afirmou.
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Questionado sobre a vida alternativa e caiçara, Marquinhos revelou: “Não tenho tudo, mas o pouco que tenho é muito para mim. Não cultivo clientes, cultivo amigos”.
Após a despedida, a Reportagem foi conduzida pela anfitriã Princesa pelo mesmo caminho, agora rumo à praia. Ela indicou a saída de Itaguaré a equipe e depois sentou ao lado de uma dupla de salva-vidas.