Embarcações velozes estão acabando com berçário de espécies da região / DIVULGAÇÃO
Continua depois da publicidade
Uma situação dramática envolvendo o ecossistema marinho do Canal de Bertioga, sob as 'barbas' de autoridades municipais, estaduais e federais. Diariamente mas, principalmente, nos finais de semana, proprietários de lanchas de luxo e motocicletas aquáticas, por pura diversão, trafegam em alta velocidade, afetando o mangue das imediações e, consequentemente, o berçário de inúmeras espécies de peixes nativos da região. O barulho das embarcações também afeta os animais terrestres e aves que vivem na Serra do Guararú - uma imensa área de preservação ambiental.
Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.
Continua depois da publicidade
A Reportagem teve acesso a vídeos e ouviu diversos pescadores artesanais que têm a pesca como único meio de sobrevivência. Damião dos Santos Machado é especialista em ostras e mariscos. "A alta velocidade dos veículos está assoreando as margens do mangue. Estamos tendo que buscar a nossa sobrevivência em rios laterais, conhecidos como gamboas (esteiro, que se enche com o fluxo da maré, e fica seco na vazante)", afirma.
A navegação e a própria pesca de rede e de mão estão impossíveis de ocorrer. "Já pedimos ajuda para que a Capitania dos Portos e Marinha façam fiscalizações no Canal de Bertioga, região do Rabo do Dragão, em Guarujá. Nosso mangue, nosso berçário está sendo destruído".
Continua depois da publicidade
Edson Santos, pescador e guia turístico, afirma que as marolas desestabilizam os pequenos barcos. "O mangue está cada vez mais curto e estamos quase atingindo a estrada. Tem muita gente irregular pescando com redes no canal. As marinas deveriam ter câmeras para ajudar a fiscalização e a multar os infratores".
Márcio Xavier dos Santos, guia de pesca, desabafa. "A movimentação de lanchas está atingindo as raízes e derrubando as árvores. Quase não tem peixe. Quem trabalha com carteira de pesca está sendo prejudicado por pescadores irregulares. Os flutuantes estão sendo danificados".
O pescador artesanal e esportivo Welton Germano da Veiga é de família tradicional caiçara está assustado com a pesca predatória e com a falta de projetos de sustentabilidade e de ecoturismo no local.
Continua depois da publicidade
"É comum ver peixes mortos boiando. Mariscos e ostras também. O derramamento de óleo no mangue, que é vida, é enorme. É preciso uma escola e um posto de educação ambiental na área, além de uma unidade da Polícia Ambiental. Não sei se meus filhos vão conseguir ver espécies aquáticas e terrestres aqui. É preciso lutar contra a depredação do meio ambiente. A natureza pede socorro. Poderíamos seguir o exemplo de muitas regiões aqui no Brasil e no exterior do pesque e solte, cota zero, criação de alevinos e piscicultura".
O secretário da Associação dos Moradores e Amigos da Cachoeira da região do Rabo do Dragão, Sidnei Bibiano Silva dos Santos, também é a favor de instalação de câmeras para poder fazer o monitoramento. "Cada dia que passa o canal está mais largo e a diversidade vai diminuindo. Não está tendo mais lugar para os peixes se reproduzir. Desse jeito, mais uns anos e o pessoal que vive de pesca vai ter que mudar de profissão", profetiza.
BASE.
A fiscalização apontada pelos pescadores artesanais poderia estar sendo realizada se a Base de Monitoramento Ambiental, localizada no quilômetro 13,5 da Rodovia Ariovaldo de Almeida Vianna SP 61, conhecida como Estrada Guarujá-Bertioga, às margens do Canal de Bertioga, estivesse cumprindo o objetivo a qual ela foi idealizada, com o acréscimo de um laboratório estuarino e centro de triagem de animais marinhos.
Continua depois da publicidade
No entanto, ela se resume hoje a uma fábrica de chocolate, esporadicamente cedida para gravações de audiovisual para programas não-governamentais, conforme reportagem do Diário de 22 de novembro último.
O equipamento, construído em área da união e com recursos públicos, está cedido ao Instituto Alimentando o Bem, que nada tem a ver com preservação ambiental, mas venceu uma licitação pública, para administrar a Base que deveria estar servindo para estudar a fauna e flora envolvendo o manguezal e o entorno do Canal de Bertioga e poderia servir como ponto para desenvolvimento de projetos sustentáveis para a pesca artesanal, contribuindo para o sustento de dezenas de famílias que residem na região conhecida como Serra do Guararú (Rabo do Dragão).
A responsável pelo Instituto é a designer de joias paulistana Emar Batalha, que comercializa tudo online. Conforme a página virtual explica, é um projeto social em que a matéria prima (cacau) é recolhido por famílias ribeirinhas da Amazônia e transformado na fábrica por famílias da Serra do Guararú (Guarujá).
Continua depois da publicidade
A Reportagem descobriu que somente nove pessoas trabalham na fábrica de chocolate e que os principais consumidores são 'endinheirados' dos loteamentos de luxo próximos, empresários e pessoas de classe alta da capital paulista. A empresária e a Prefeitura de Guarujá garantem que o processo é totalmente transparente e legal.
A comunidade ribeirinha vem desde 2010 solicitando o espaço para aprender novas técnicas de manejo, de preservação ambiental e para atividades sociais. Há até um abaixo-assinado de abril deste ano.