Fruta Cambuci / Gabo Morales/Folhapress
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Por Nilson Regalado
Quando Brás Cubas mandou reforço de Santos para proteger a recém-nascida vila de São Paulo de Piratininga contra a invasão de índios guarulhos e guaianás em um longínquo 9 de julho, a trilha pela Serra do Mar onde hoje estão cidades como Cubatão, Santo André, Ribeirão Pires era coberta por uma árvore tão nobre que quase foi extinta. Dessa planta vistosa brotava uma fruta mais rica em vitamina C do que a laranja. Parente da goiaba e da pitanga e com nuances de aroma e sabor que lembram a jabuticaba, o cambucy alimentou índios, seduziu portugueses e foi tão importante na consolidação da ‘civilização paulista’ que batizou até um dos bairros mais tradicionais da metrópole...
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Mas, coube aos tropeiros que cruzavam os sertões de Paranapiacaba e Piaçaguera desde o Planalto até a praia, a transportar no lombo de mulas as primeiras riquezas produzidas no Estado, a alquimia máxima de unir a fruta em formato de disco voador à cachaça descoberta por acaso no Engenho dos Erasmos, em Santos. A partir daí, o cambucy ganhou passaporte para a eternidade...
Forte como João Ramalho, resiliente como Frei Gaspar e com a têmpera de Tibiriçá, a árvore resistiu à extinção nos séculos seguintes, buscou refúgio no Vale do Ribeira e no Alto Tietê, onde se multiplicou na histórica Iporanga e na charmosa São Luiz do Paraitinga.
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Testemunha das transformações promovidas em cinco séculos no cenário e nos costumes por paulistas e por todas as gentes que para cá vieram, o cambucy virou sinônimo de identidade para 12 municípios do ABC, da Grande SP e do Litoral que neste século 21 passaram a promover festivais gastronômicos com a fruta. A contribuição do cambucy é tão significativa que o Instituto Federal, Campus Suzano, e produtores da Rota do Cambuci estão requerendo a indicação geográfica do cambucy, espécie de reconhecimento internacional.
E a fruta está em plena safra. Com apoio de ongs, pequenos produtores, na maioria mulheres, começaram a colher agora em março a safra 2021. A expectativa é que até maio sejam colhidas 200 toneladas de cambucy, a serem consumidas na alta gastronomia e na forma de geleias, doces e sorvetes...
Vulcão criou café intenso...
Antes de se extinguir, há 80 milhões de anos, um vulcão despejou lava por extensa região na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, confinando pedras preciosas e água mineral. É justamente nesta região que são produzidos alguns dos melhores cafés do Brasil, em altitudes que chegam a 1.500 metros acima do nível do mar.
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...meio mineiro, meio paulista
Agora, 12 municípios, entre eles as mineiras Andradas e Poços de Caldas e as paulistas São Sebastião da Grama e Águas da Prata, resolveram criar um selo próprio para comercializar o ‘Café Vulcânico’. O clima frio, a altitude, o solo rico e a tradição no cultivo criaram um café com sabor intenso e boa acidez...
Filosofia do campo:
“A beleza é a inteligência à flor da pele”, Millôr Fernandes (1923/2012), jornalista carioca.
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