Diego Monsalvo, professor de filosofia e escritor / DIVULGAÇÃO
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Por Diego Monsalvo
O indivíduo é uma totalidade de corpo, mente, de algo que o anima (ânima, alma) e mistério, ou seja, cada um de nós é um todo tão complexo que não podemos ter a pretensão de nos definirmos por uma só dessas partes. Tudo parece funcionar para o mantenimento d’uma harmonia visível e invisível aos olhos. Rezar e meditar são práticas milenares e multiculturais que têm como um dos seus fundamentos a busca mais profunda dessa harmonia.
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Pesquisas sérias, e são muitas, têm apontado até mesmo para uma correlação positiva observável entre determinadas práticas de oração, meditação (conjunto de técnica(s) de esvaziamento da mente, proveniente principalmente de práticas ritualísticas asiáticas) e nossa saúde orgânica e mental.
Todavia, gostaria de frisar que na maioria das vezes, ironicamente propagado em muitos meios religiosos, a oração é vista apenas no horizonte do terreno físico, como um pensamento positivo, sendo uma espécie de botão orgânico do prazer e do sucesso material, o que pode gerar um problema perigoso, qual seja, o de delimitarmos o ser humano à sua biologia e à sua conformidade com a sociedade do presente e vê-lo como um conglomerado de células que busca a sua expansão na esfera fugaz da materialidade. Não podemos nos esquecer, como já disse, de que somos também ânima e mistério.
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Uma coisa é o pensamento positivo (tão em voga na sociedade do espetáculo e do consumo), fenômeno do âmbito meramente material, do imediato e da infantilidade da fé e outra coisa é a oração como linguagem de ressignificação da existência, onde o indivíduo passa a viver no espaço da transcendência e no tempo da esperança, isto é, num estado já de gratidão pelo fato de ser e estar no mundo e ao mesmo tempo de ação para a transformação da realidade num cenário encantado de utopia, e aqui já estamos refletindo para além de nossa esfera biológica. É a questão própria da mística, segundo os grandes pensadores da religião como Paulo de Tarso, Teresa D´Ávila, Martinho Lutero, Buda, Muhammad etc.
Somos tão pequenos e, ao mesmo tempo, podemos tanto! Como já nos disse o grande filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662), “o homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota de água bastam para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que quem o mata, porque sabe que morre e a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso”, ou seja, nós queremos saber, encontramos e criamos razões de ser para todo o cosmos, mergulhamos nisso e a única certeza que temos é a de nossa fragilidade mortal!
Somos criaturas entre criaturas, estamos aí jogados no universo e nos sustentamos uns aos outros. Pensando com Francisco de Assis, outro grande pensador místico, que escreveu o estupendo Cântico das Criaturas, somos todos irmãos e do sol e da lua e do lobo e dos peixes e das estrelas.
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* Diego Monsalvo, professor de filosofia e escritor
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