Silvio Sebastião Pinto, Analista Programador e Escritor / DIVULGAÇÃO
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Por Silvio Sebastião Pinto
No mundo hipertecnológico como o que vivemos é um anacronismo conviver com motores a combustão. Uma gota de gasolina cai em uma faísca da vela do motor, e isso causa uma explosão, como a espoleta de uma bala de revólver. Essa explosão gera uma pressão que movimenta o motor. Aí cai outra gota e esse ciclo mantém o motor funcionando. É algo muito simples, e foi essa tecnologia que transportou o mundo até aqui.
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Então o motor de um carro não é mais que um fogão a combustível fóssil. É uma bênção, só que isso libera muita fumaça e muito gás carbônico. Na quantidade de carros que temos atualmente rodando em todos os pontos habitáveis do globo isso já se tornou numa catástrofe de grandes proporções, algo que precisa de esforços de todos os setores para ser contornado.
O grande volume de informações sobre os problemas ambientais gerou maior conscientização, o que acabou por gerar uma tendência a práticas menos poluentes, como evitar o uso de combustíveis fósseis; e substituir gasolina e óleo diesel por baterias elétricas parece algo muito inteligente. Mas em um país entregue às teias de aranha como o nosso até as boas ideias têm surpresas desagradáveis embutidas, e podem fazer toda a diferença.
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De acordo com o site da Chevrolet o modelo Bolt faz até 416 Km com a bateria de 66 Kwh. Fiz uma pesquisa rápida no Google e descobri que, em média, gastamos 0,08 Kwh por minuto debaixo do chuveiro elétrico. Então numa conta direta uma casa com duas pessoas gasta, em média, 57,6 Kwh, considerando banhos de 12 minutos. Adquirir um carro elétrico nessa casa seria o mesmo que dobrar o consumo do chuveiro elétrico. Parece pouco, mas num país em que todo ano o assunto do racionamento volta forte, e onde o presidente pede para apagarmos um ponto de luz par evitar apagão, ligar um chuveiro a mais é um grande problema.
Observe que não estou comparando a economia da energia elétrica sobre o consumo de gasolina, pois tudo leva a crer que o gasto de locomoção realmente fica mais barato, o problema é que tudo leva a crer que não teremos energia elétrica para abastecer os novos carros. Ok, eles não vão chegar todos de uma vez às lojas, ainda devem demorar uns dois ou três anos para ganhar as ruas com força, mas como não existe um planejamento da matriz energética estruturado para a próxima década a chance de vermos essa nova tecnologia colapsar o nosso sistema de abastecimento elétrico é real.
Em entrevista coletiva no dia 25 de agosto o ministro das Minas e Energias afirmou que o país vive a maior crise hídrica dos últimos 91 anos. Então, dar partida em uma tecnologia que vai depender totalmente de energia elétrica parece algo que vai nos transportar a problemas sem fim. A instalação de energia solar doméstica pare uma boa alternativa, e vem sendo adotada com certa frequência, mas recentemente a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que vai tarifar a captação de energia solar, tem cabimento? E isso já está sendo visto como empecilho para o crescimento desse mercado.
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Ou seja, parece que a crise hídrica, em vez de tomar um bom caminho para a solução definitiva tende a ganhar um agravante. Desgraça pouca é bobagem.
* Silvio Sebastião Pinto, analista programador e escritor.
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