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Em pouco mais de dois metros quadrados de escavações, um arqueólogo e sua equipe encontraram cerca de 900 fragmentos, entre eles, vestígios de cerâmica de contato (artefato indígena com influência da cultura europeia e africana), ossos humanos e de animais, ferramentas rudimentares de ferro, talheres e louças.
São registros da ocupação do homem que remontam três mil anos, passando pelos coletores de sambaquis, indígenas, colonização europeia, povo africano até o século 19. O pequeno sítio arqueológico, considerado um dos maiores e mais completos do Brasil, foi encontrado em São Vicente, a primeira vila do País. As escavações estão sendo feitas nos fundos e a três metros de profundidade da Casa Martim Afonso de Sousa, no Centro de São Vicente.
O diretor do Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas de Santos e professor de Arqueologia da USP, arqueólogo Manoel Gonzalez, disse que encontrar reunidos vestígios de séculos ou milênios de civilizações é raro em qualquer parte do mundo. Gonzalez e sua equipe trabalham há dois meses no que considera riqueza histórica e de ocupação humana inestimáveis. Os trabalhos de pesquisa se prolongarão por pelo menos mais quatro ou cinco meses, de acordo com o arqueólogo.
Segundo ele, uma parede datada de 1560, que era o seu objeto de estudo inicial, nos fundos da Casa Martim Afonso de Sousa, se revelou um portal para todas essas descobertas.
Gonzalez explica que os trabalhos estão sendo realizados apenas do lado de fora. Ele acredita que pode haver vestígios ainda mais significativos atrás da parede que constituía uma edificação. “Lá dentro podem estar indícios do dia a dia de quem ocupou essa edificação, que podem nos trazer mais informaçõe”.
Gonzalez afirma que dentro da edificação possa haver, inclusive ossadas. Mas, avançar nessas pesquisas terá um desafio ainda maior. A edificação está localizada sob um estacionamento de propriedade particular. A autorização para escavar o local dependerá de conversações entre a Prefeitura e o dono da propriedade.
O prefeito de São Vicente Tércio Garcia declara que esses achados arqueológicos “comprovam fisicamente” que São Vicente possa realmente ser a primeira vila do Brasil. “São Vicente havia perdido seus marcos históricos através dos tempos com demolições de edificações. Não havia um lugar onde se pudesse sentir essa história. A história de São Vicente”.
O prefeito anunciou ontem à imprensa que o patrimônio encontrado poderá ser visitado pela população e pelos turistas. Parte dos objetos coletados já estão em exposição na Casa Martim Afonso de Sousa, mas o prefeito também abrirá o sítio arqueológico para visitação pública. Tércio estima que a visitação ao local possa ser liberada já no dia do aniversário da Cidade, em 22 de janeiro.
Para a visitação, a Prefeitura fará algumas intervenções no local. Segundo o prefeito, o mezanino de madeira sobre o local das escavações será parcialmente aberto para que os visitantes possam observar o sítio arqueológico localizado há três metros de profundidade.
O prefeito adiantou ainda que as escavações não encerrarão na Casa de Martim Afonso. Outras explorações de sítios arqueológicos serão feitas na região central da Cidade e no Porto das Naus.
Maravilhado com os vestígios encontrados, o coordenador da Casa Martim Afonso de Sousa, historiador Marcos Braga, afirma: “é um sítio diferenciado, ímpar. Nós temos vestígios pré-históricos, adornos de conchas de coletores de sambaquis; restos de peixes e ossos humanos, material de três mil anos; cerâmica indígena tupi; cerâmicas de contato indígenas com influência da cultura europeia e africana; entre outros fragmentos de cerca de 800 anos e louças que podem ser dos séculos 16, 17, 18 e 19”.
Marcos demonstra ainda sua satisfação por essas riquezas estarem situadas em um local de fácil acesso à população que é o centro da Cidade, e por estar preservado, de certa forma, num local que já sofreu muitas intervenções e mudanças com ocupações e demolições.
Casa Martim Afonso
De acordo com Marcos, a Casa Martim Afonso de Sousa foi erguida em 1895 pelo Barão de Piracicaba, no local que, segundo a história, teria abrigado a casa do fundador de São Vicente Martim Afonso de Sousa, no século 16.
A Casa do Barão, que atualmente tem o nome do fundador da vila de São Vicente, foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico de São Vicente (Condephasv), no ano passado. A Casa Martim Afonso de Souza fica na Praça 22 de Janeiro, 469, esquina com a Rua Martim Afonso, no Centro, próximo à Igreja Matriz.
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