A imponência da construção está viva em detalhes que vão do piso antigo até o teto / Paolo Perillo/DL
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A história do “castelinho” começa em 23 de agosto de 1925, em uma sessão solene de lançamento da ‘pedra fundamental’ – expressão pouco usada nos dias atuais, mas que na época marcava o início efetivo de uma nova edificação.
Dois anos depois, a imponente casa na Avenida Ana Costa, 285, abria as portas e as mais de vinte janelas para receber crianças desamparadas da cidade. Começava ali mais uma etapa da vida do Educandário Anália Franco, em Santos, que até então atendia na Rua do Rosário, 537, segundo o registro em atas históricas da entidade.
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Nos anos em que serviu de lar para quem não tinha um, a casa foi ampliada e passou a oferecer aulas escolares, assistência médica, hospitalar e dentária, ensinou música e modalidades esportivas, sempre através de voluntários que compartilhavam o seu tempo com o próximo.
Os anos foram passando e o “castelinho” - como é chamado pelos funcionários o clássico prédio santista - transferiu suas crianças para o imóvel ao lado, também pertencente ao Anália, mas manteve o compromisso com a educação ao disponibilizar suas amplas salas para novos projetos na década de 80.
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“O educandário, durante toda a sua trajetória, já atendeu pessoas em situação de rua, idosos e crianças sem família, mas foi se adaptando de acordo com as necessidades”, explica o atual presidente Claudio Luiz Neves.
De 1982 a 2002, o imóvel foi locado pela Prefeitura de Santos para abrigar a Escola Municipal Dino Bueno. Com a saída do colégio, passou a atender o Programa de Inclusão Digital – Rede do Futuro, contrato que durou até 2012. Ainda no mesmo ano, em outubro, houve a intenção, por parte da municipalidade, de que o prédio recebesse as instalações do Centro de Tecnologia Educacional da cidade. Mas, em menos de um ano o contrato foi cancelado porque as partes envolvidas não chegaram a um acordo referente ao aluguel.
Em outubro de 2013, o “castelinho” fechou as portas de vez e até hoje se mantém vazio. Agora, quem passa por ali observa no gradeado de proteção uma faixa branca preenchida com a palavra ‘aluga-se’ e o número de telefone em letras azuis.
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Não há mais o barulho típico das crianças em horário escolar, nem o vai e vem de jovens pelo portão principal que buscaram ali um curso de capacitação profissional. “É triste ver essa casa fechada há tanto tempo. E o pior é que ela está se deteriorando porque é muito antiga. Mesmo assim ela está forte porque foi construída com madeira boa, piso de mármore, continua linda. Até chegamos a fazer orçamento para uma reforma, mas não temos verba”, explica Claudio.
Questionado se o imóvel gera gastos aos administradores do Anália Franco enquanto está sem locatários, o presidente diz que não porque as despesas são básicas, apenas com segurança e serviços pontuais.
O castelinho
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A Reportagem teve acesso ao interior do imóvel. Devido ao tempo em que está fechado há muita sujeira, pontos de infiltração, e o telhado necessita de reparos. Mesmo assim, a imponência da construção está viva em detalhes que vão do piso antigo até o teto.
Nas paredes das amplas salas de aula ainda existem lousas e, em algumas delas, dizeres escritos em giz de alguma aula passada. Na parede da cozinha papéis pendurados indicam o local correto para o descarte do lixo comum e do reciclável. Em um dos corredores, plantas de plástico, mesmo empoeiradas, trazem um pouco de vida ao local e a claraboia, independentemente da solidão e do marasmo da casa, continua realizando sua função ao permitir a passagem da ventilação e da luz solar.
"É inevitável dizer que ficaria feliz em ver essas salas cheias de alunos de novo, elas estão preparadas para isso. Mas, seja qual for a nova função que essa casa ganhar, ver movimento de novo aqui mudaria tudo”, comenta Luiz.
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O imóvel também guarda curiosidades, como uma nota de 50 em espécie que parece ser réis, (a Reportagem não conseguiu confirmar a informação), achada em 18 de outubro de 2013 atrás de uma placa de Washington Luís.
Possíveis locatários
De acordo com Claudio, possíveis interessados entraram em contato para alugar o imóvel, entre eles, uma hamburgueria e uma universidade de São Paulo. No entanto, até o momento nenhuma negociação foi finalizada. Se alugada, a verba mensal ajudará a manter os serviços prestados pelo Educandário Anália Franco, que atualmente atende, só no prédio da Ana Costa que fica ao lado do castelinho, 243 crianças em creche integral, de quatro meses a 11 anos de idade.
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Com dificuldades financeiras, a entidade conta hoje com apenas 86 funcionários, mas já chegou a ter 164. E, enquanto aguarda uma nova função, o imóvel que tanto acolheu a caridade é que, agora, precisa de ajuda.